quinta-feira, 17 de novembro de 2005

Geni e o zepelim

[ Chico Buarque / 1977-1978 ]

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Co'os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo - Mudei de idéia
- Quando vi nesta cidade
- Tanto horror e iniquidade
- Resolvi tudo explodir
- Mas posso evitar o drama
- Se aquela famosa dama
- Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

Mas de fato, logo ela
Tão coitad e tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro
Acontece que a donzela
- e isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni

Foram tantos os pedidos
Tão sinceros tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni

sábado, 15 de outubro de 2005

Pagu

Mexo e remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
sabe o que que é ser carvão
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Minha força não é bruta
Não sou freira,
nem sou puta

Porque nem Toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu
indignada no palanque
Fama de porra louca...
tudo bem
Minha mãe é Maria ninguém
Não sou atriz
Modelo ou dançarina
Meu buraco é mais em cima

Porque nem Toda feiticeira é corcunda
NemToda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem

Rita Lee/Zelia Duncan

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Wanted


Parasita

Não vês o quanto é podre por dentro?
És um câncer
Que se expande a cada dia
Alienado em teu estúpido mundinho
Sinto nojo de ti

És um vírus
Perigoso, traiçoeiro
Vive em silêncio
Porém com o potencial
Da pior arma biológica

Pareces não incomodar,
Mas é esse teu parasitismo
Que mais me incomoda
Exploda-te, infeliz!

domingo, 14 de agosto de 2005

Luta

Tarefa árdua essa, mas vou lutar
Quero descobrir a cada dia mais
Quem eu realmente sou
O que vejo, o que penso
Onde está
Meu verdadeiro objetivo
O meu eu.

Triste é quando me conformo
Em ser mais uma
Em pensar não ser capaz.

domingo, 7 de agosto de 2005

Espero que não sirva a carapuça...

Pseudo-anarkos. Só fazem asneira. Pensam que boicotar o Mc Donalds, quebrando as lojas por aí vai adiantar alguma coisa. Achei uma vez num site um adjetivo bem legal para eles: "pseudo-revoltadinho vestido de preto com spikes no braço e vocabuláriuo chulo, que se acha cheio de 'atitude' ". Eles têm a cabeça fechada; na maioria das vezes têm esse tipo de atitude apenas porque acham que tem que quebrar tudo aquilo que diz respeito ao "sistema" é a solução. Parece até que não sabem que dinheiro para os burgueses não é nada. No outro dia já está tudo em ordem. Adiantou alguma coisa? Não. E não vai adiantar. Atitudes de vandalismo não fazem parte do ideal anarquista, e muito menos aquilo que gera violência.

Kropotkin, Emma Goldman? Quem são esses?

segunda-feira, 25 de julho de 2005

Contradição?

A Cris me inspirou depois daquele comentário. Acho que essa é a melhor frase do filme Matrix: "A ignorância é uma bênção"! Não só a melhor mas também a que mais se podem tirar conclusões "filosóficas". Em um post mais antigo, eu disse sobre a "Praga da ignorância". Mas é difícil falar sobre algo que nos faz tão humanos. Faz parte do ser humano utilizar a ignorância para sua própria felicidade, na maioria das vezes de forma egocentrista. Necessitamos não somente da sabedoria para vivermos felizes.

O problema é quando a ignorância ultrapassa os limites dos quais a sociedade precisa para caminhar em harmonia. Ou seja, nem sempre a ignorânia é uma benção. Depende da forma de como essa ignorânia vai limitar a liberdade do próximo. Aí está a raiz da maior parte das desigualdades humanas e ideais egoístas, em minha opinião.

Já o outro tipo de ignorância, o que não é o caso do filme, é como por exemplo a do analfabeto político, como nesse texto de Bertold Brecht:

O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

domingo, 17 de julho de 2005

Proudhon e a educação

"... além das derivas que conduzem o seu impulso à escritura, nós apercebemo-nos que o sentido englobante dado por Proudhon ao conceito de “educação” leva-o a tratar tudo como um especialista, menos ainda como um técnico. O de libertar-se dos determinismos da natureza como dos da sociedade.

No fundo, se Proudhon, mais que alguém persuadido pela importância essencial da educação, tem no total escrito pouco sobre o assunto, e em todo o caso nunca lhe foi consagrado um exposto sistemático, é porque provavelmente ela é para si neste ponto fulcral importante, não sabendo tratá-la de uma forma isolada. Ela aplica-se a tudo o que diz respeito ao desenvolvimento humano, individual e social, é uma dimensão de todas as questões que coloca o futuro do homem e dos progressos que ele é capaz de juntar.

É isto que exprime esta declaração, no início e para assim no preâmbulo do estudo da Justiça evocada mais alto, que tem justamente como característica não isolar o tema educativo de cada um dos outros. Pelo contrário, ela insere-a no conjunto dos pontos de vista proudhonianos, para formar o objectivo final e o movimento a que pode conduzir:

“A educação […] constitui uma arte, a mais difícil de todas as artes; uma ciência, a mais complicada de todas as ciências, já que ela consiste em informar as mesmas verdades dos espíritos que não são semelhantes; a ter os mesmos deveres dos corações que não se abrem do mesmo lado da Justiça. A educação é a função mais importante da sociedade, aquela que tem ocupado mais as legislativas e o judicioso” ( Justiça, II, 333-336 ).

Não saberia portanto de admirar que o condensado do pensamento do nosso autor a este respeito, tinha tomado um lugar de destaque na ambiciosa obra onde Proudhon da maturidade quis juntar o conjunto do seu método, da sua moral e da sua filosofia social. Dando acima de tudo confiança às capacidades propriamente indefinidas da razão humana, o reformador afirma que apesar dos acolhimentos provisórios e mesmo da eventualidade - que o assusta - de um insucesso final, inscrito na própria liberdade, a virtude e o direito triunfarão. A Justiça, que é a plenitude do humano, impor-se-à. Ou então tudo se perderá.

Educar, educar sem trégua nem descanso, é a única forma de fazer emergir progressivamente esta ideia soberana da Justiça, para que ela se realize um dia senão na sua plenitude, ao menos com a aproximação mais parecida. É assim que o que é sempre tido por um observador e um analista das realidades, não excluem mesmo a hipótese pior, revela afinal de contas um optimista profundo, portanto activo.

O combate não parará nunca, porque a liberdade e a igualdade não são “naturais” mas adquiridas. Ou sobretudo conquistas para serem partilhadas. A humanidade será no futuro, mais progresso onde ela é capaz de só obter o concurso com todos os seus membros. “Democracia” é demopedia, educação do povo”, repete Proudhon ( Carnets, 5-12-51 e Cor. IV-217 ). Contudo, o homem está só face a ultrapassar a sua animalidade pela razão, ele é também indefinidamente perceptível. É preciso, portanto apostar sobre esta capacidade de evolução. Ela só pode conduzir a este respeito dos outros que não é definitivo que o amor consequente de si mesmo. Educação do povo e revolução autêntica são sinónimos. Ainda falta demonstrá-lo."

-> Texto retirado do site http://www.nodo50.org

Eu sei mas não devia...

"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor.
E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E porque não abre as cortinas logo se acostuma
a acender cedo a luz.
E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã
sobressaltado porque está na hora.
A tomar o café correndo porque está atrasado.
A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem.
A comer sanduiche porque não dá para almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e
ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso
de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma à poluição.
Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias de água potável.
Agente se acostuma a coisas demais, para não sofrer.

Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se a praia está contaminada a gente molha só os pés e sua no resto do corpo.
Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se o trabalho está duro a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos,
para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.
Que aos poucos se gasta, e que gasta de tanto se acostumar, e se perde de si mesma."

-> Texto de Marina Colassanti

quinta-feira, 14 de julho de 2005

O feio mundo "belo"

Hitler um dia sonhou com um belo conto de fadas. Sonhou com a Alemanha perfeita, aos modelos clássicos, tanto na arte, arquitetura, como nos corpos perfeitos, ao jeitinho grego. Imaginou tudo em perfeita harmonia: loiros e loiras de olhos azuis, fortes, saudáveis, superiores! E todos eles procurando por um objetivo comum, o de exterminar as raças inferiores e formar o mais novo "reich"! Tudo por um mundo mais bonito! Oh, belo nazismo!!!

Então acordou... fez a cabeça de milhares de pessoas, não somente a dos alemães, com esse "magnífico" conto!

Mas Hitler nunca parou para pensar se o que ele fazia de tão belo ao mundo era também belo aos olhares dos outros povos, ou mesmo aos olhares dos próprios alemães. Apenas fez. Não questionou e também não deixou que outros questionassem. Confundiu aquele conto de fadas com a realidade. Cometeu assim gravíssimos genocídios, os quais tiveram muitas vítimas inocentes. Não percebeu que a raça pura ariana nunca existiria, pois sem a variabilidade gênica, o ser humano nunca viveria por tanto tempo. Reprimiu muita gente, tornando-se um ditador. Não viu o quão errado ele fazia em brincar com a realidade.

quarta-feira, 6 de julho de 2005

Ecologia e Sociedade

Eis aqui um fragmento do texto recitado pela "Ação Ecológica Leste", nos EUA, em 1969, o qual se encaixa completamente aos dias de hoje e a situação catastrófica em que se encontra o meio ambiente. Vale a pena a leitura!

'A concepção básica de que a humanidade deve dominar e explorar a natureza, provém da dominação e exploração do homem pelo homem. Na verdade, esta concepção vem de tempos remotos em que o homem começou a dominar e explorar as mulheres dentro da família patriarcal. Desde essa altura os seres humanos foram olhados, cada vez mais, como meros recursos, como objetos em vez de sujeitos. As hierarquias, classes, sistemas de propriedade e instituições políticas que emergiram com o domínio social foram transferidas conceitualmente para a relação entre a humanidade e a natureza. Esta, também foi cada vez mais olhada como mero recurso, um objeto, uma matéria bruta a ser explorada tão implacavelmente como escravos num latifúndio. Esta "visão do mundo" impregnou não só a cultura oficial da sociedade hierárquica; tornou-se na maneira como os escravos, servos, trabalhadores da indústria e as mulheres de todas as classes sociais se começaram a considerar a eles mesmos. Contida na "ética do trabalho", na moralidade baseada na recusa e na renúncia, num modo de comportamento baseado na sublimação dos desejos eróticos e noutros aspectos mundanos (sejam eles Europeus ou Asiáticos), os escravos, servos, trabalhadores e metade das mulheres da humanidade foram ensinadas a vigiarem-se a si próprios, a talharem as suas próprias cadeias, a fechar as portas das suas prisões.

Se a "visão do mundo" da sociedade hierárquica começa hoje a declinar é especialmente porque a enorme produtividade da moderna tecnologia abriu uma nova visão: a possibilidade de abundância material, um fim à escassez de uma era de tempos livres (o chamado "lazer") com um mínimo de trabalho duro. A nossa sociedade está a ser impregnada por uma tensão entre "o que é" e "o que poderia ser", uma tensão exacerbada pela exploração e destruição irracional e desumana da terra e dos seus habitantes. O maior obstáculo que dificulta a solução desta tensão é a extensão até à qual a sociedade hierárquica ainda modela os novos pontos de vista e as nossas ações. É mais fácil refugiarmo-nos nas críticas à tecnologia e ao crescimento populacional; tratar com um sistema social arcaico, destrutivo sobre as suas próprias condições e dentro da sua própria estrutura. Quase desde o berço temos sido socializados pela família, instituições religiosas, escolas e pelo próprio trabalho, aceitando a hierarquia, renúncia e sistemas políticos, como premissas sobre as quais todo o pensamento deve apoiar-se. Sem esclarecer essas premissas, todas as discussões, sobre o equilíbrio ecológico permanecerão meros paliativos e serão contraproducentes.

Em virtude da sua excepcional bagagem cultural, a sociedade moderna - sociedade burguesa orientada para os lucros - tende a exacerbar o conflito entre a humanidade e a natureza, de uma forma mais crítica do que as sociedades pré-industriais do passado. Na sociedade burguesa, os humanos não só se transformam em objetos mas também em mercadorias; em objetos claramente destinados a serem vendidos no mercado. A competição entre os seres humanos, como mercadorias, torna-se um fim em si, em conjunto com a produção de artigos totalmente inúteis. A qualidade transformou-se em quantidade, a cultura individual em cultura de massas, a comunicação pessoal em comunicação de massas. O meio ambiente natural tornou-se numa fábrica gigantesca e a cidade num imenso mercado: tudo, desde uma floresta Redwood ao corpo de uma mulher tem "um preço". É tudo equacionado em dólares, seja uma catedral consagrada ou a honra individual. A tecnologia deixa de ser uma extensão da tecnologia. A máquina não amplia o poder do trabalhador; é o trabalhador que amplia o poder da máquina e na verdade ele mesmo se torna numa simples parte da máquina. É assim tão surpreendente que esta sociedade exploradora, degradante e quantificada oponha a humanidade a si própria e à natureza, numa escala mais assombrosa do que qualquer outra no passado?

Sim, necessitamos mudar, mas mudar tão fundamentalmente e em tão grande escala que mesmo os conceitos de revolução e liberdade devem ser ampliados para além de todos os primitivos horizontes. Não é já suficiente falar das novas técnicas para a conservação e promoção do ambiente natural; devemos tratar a terra comunalmente, como uma coletividade humana, sem aquelas peias da propriedade privada, que têm distorcido a visão da vida e da natureza da humanidade, desde a rutura da sociedade tribal. Devemos eliminar não só a hierarquia burguesa mas a hierarquia como tal; não só a família patriarcal, mas também todas as formas de domínio familiar e sexual; não só a classe burguesa e o sistema de propriedade, mas sim todas as classes sociais e a propriedade. A Humanidade deve tomar posse de si própria, individual e coletivamente, para que todos os seres humanos obtenham o controle de suas vidas diárias. As nossas cidades devem ser descentralizadas em comunidades ou ecocomunidades talhadas, fina e habilidosamente, para o aproveitamento da capacidade dos ecossistemas nos quais elas estão localizadas. As nossas tecnologias devem ser readaptadas e formuladas em ecotecnologias, fina e inteligentemente adaptadas para usarem as fontes de energia local e os materiais, com um mínimo ou sem poluição do ambiente. Necessitamos recuperar um novo sentimento das nossas necessidades - necessidades que fomentem uma vida saudável e que exprimam as nossas inclinações individuais, não as "necessidades" ditadas pelos meios de comunicação. Temos que restaurar a escala humana no nosso ambiente e nas nossas relações pessoais, substituto medianeiro das relações pessoais diretas na gestão da sociedade. Finalmente, todas as formas de domínio - social ou pessoal - devem ser banidas das nossas concepções, de nós próprios, dos nossos semelhantes e da natureza. A administração dos humanos deve ser substituída pela administração das coisas. A revolução que pretendemos deve envolver não só as instituições políticas e as relações econômicas, mas também a consciência, o estilo de vida, os desejos eróticos e a nossa interpretação do significado da vida.

O balanço aqui, é o espírito antiquado e os sistemas de domínio e repressão que não só opuseram o homem ao homem, mas a humanidade à natureza. O conflito entre estas é uma extensão do conflito entre o ser humano. A não ser que o movimento ecológico envolva o problema do domínio em todos os seus aspectos, ele não contribuirá em nada para a eliminação da origem das causas da crise ecológica do nosso tempo. Se o movimento ecológico se detém em simples reformas de controle da poluição e conservação, sem tratar radicalmente da necessidade de ampliação de um conceito de revolução, ele servirá meramente como uma válvula de segurança do sistema existente da exploração humana e natural.'

domingo, 3 de julho de 2005

Perguntas de um Trabalhador que Lê

" Quem construiu a Tebas de sete portas?

Nos livros estão nomes de reis.

Arrastaram eles os blocos de pedra?

E a Babilônia várias vezes destruída

Quem a reconstruiu tanta vezes?

Em que casas Da Lima dourada moravam os construtores?

Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?

A grande Roma está cheia de arcos do triunfo

Quem os ergueu?

Sobre quem triumfaram os Cesares?

A decantada Bizancio tinha somente palácios para os seus habitantes?

Mesmo na lendária Atlântida

Os que se afogavam gritaram por seus escravos

Na noite em que o mar a tragou?

O jovem Alexandre conquistou a Índia.

Sozinho?

César bateu os gauleses.

Não levava sequer um cozinheiro?

Filipe da Espanha chorou, quando sua Armada Naufragou.

Ninguém mais chorou?

Frederico II venceu a Guerra dos Sete Anos.

Quem venceu além dele?

Cada página uma vitoria.

Quem cozinhava o banquete?

A cada dez anos um grande Homem.

Quem pagava a conta?

Tantas histórias.

Tantas questões."

sexta-feira, 1 de julho de 2005

Corrente Libertária

Aí está um texto legal sobre o induvidualismo humano e as relações disso com o ideal anarquista.
" A primeira pessoa a elaborar uma teoria claramente anarquista foi um individualista: William Godwin, em An Enquiry concerning Political Justice («Uma pesquisa sobre a justiça política»), obra publicada em 1793. Em reação contra os partidários e os adversários da Revolução Francesa, postulou uma sociedade sem governo e com o mínimo de organização possível, na qual os indivíduos soberanos deveriam preservar-se de qualquer forma de associação permanente apesar de numerosas variantes, é ainda a base do anarquismo individualista. É o anarquismo dos intelectuais, dos artistas e dos não-conformistas, das pessoas que trabalham sós e preferem ficar à margem. Desde a época de Godwin, seduziu várias pessoas do gênero, especialmente na Inglaterra e na América do Norte, por exemplo personalidades como Shelley e Wilde, Emerson e Thoreau, AugustusJohn e HerbertRead. Podem atribuir-se a si próprias outra etiqueta, mas sente-se sempre o individualismo transparecer nelas. Talvez nos faça um pouco cair no erro limitar o individualismo a uma espécie de anarquismo; o individualismo teve uma influência profunda sobre todo o movimento anarquista e, se se observa os anarquistas, vê-se que é ainda uma parte essencial da sua teoria, ou pelo menos da sua motivação. Os individualistas são, poder-se-ia dizer, os anarquistas de base, que desejam simplesmente destruir a autoridade e não vêem a necessidade de pôr o que quer que seja no seu lugar. É um ponto de vista válido até certo ponto, mas não vai suficientemente longe para afrontar os problemas reais da sociedade a qual tem certamente mais necessidade de cação social que pessoal. Só podemos salvar-nos a nós mesmos mas nada podemos fazer pelos outros. Uma forma mais extrema do individualismo é o egoísmo, sobretudo sob a forma expressa por Max Stirner, em Der Einzige und sein Eigentum («O único e a sua propriedade»), obra publicada em 1843. Como acontece com Marx ou Freud, é difícil interpretar Stirner sem irritar os seus discípulos, mas pode-se ainda assim dizer que o seu egoísmo difere do individualismo em geral, porque rejeita abstrações tais como a moralidade, a justiça, a obrigação, a razão, o dever, em proveito dum reconhecimento intuitivo da existência única de cada indivíduo. Recusa evidentemente o Estado, mas recusa igualmente a sociedade e tende para o niilismo (a idéia de que nada tem importância) e o solipsismo (a idéia que nada existe fora de si mesmo) . É claramente anarquista, mas de maneira essencialmente improdutiva, já que qualquer forma de organização que vise para além duma efêmera «união de egoístas», é considerada como fonte duma nova opressão. É o anarquismo dos poetas e dos vagabundos, dos que querem uma solução absoluta e recusam todo o compromisso. É a anarquia aqui e agora, se não no mundo, pelo menos na nossa própria vida. Uma tendência mais moderada que deriva do individualismo é a corrente libertária. No sentido mais simples, significa que a liberdade é uma boa coisa; num sentido mais estrito, é a idéia que a liberdade é o fim político mais importante. Assim, o «libertarismo» não é tanto um tipo específico de anarquismo quanto uma forma temperada deste, um primeiro passo. Emprega-se por vezes tal termo como sinônimo ou eufemismo para o anarquismo em geral, logo que há qualquer razão para evitar uma palavra demasiado pesada de emotividade mas mais amiúde significa o reconhecimento de idéias anarquistas num domínio particular, sem que isso implique a aceitação completa do anarquismo. Os individualistas são libertários por definição, porém os socialistas libertários ou os comunistas libertários são os que trazem ao socialismo ou ao comunismo o reconhecimento do valor essencial do indivíduo."
Retirado do site: http://ccl.yoll.net/texto5.html


"Antes de pensar em estabelecer a anarquia no mundo, devemos ser capazes de viver como anarquistas." (Errico Malatesta)

domingo, 26 de junho de 2005

A praga da ignorância

" ... A única solução contra esta tamanha manipulação é o pensar. Quando pensamos, quando perguntamos o porquê, enxergamos a verdade crua sobre o mundo, abandonando os pré-conceitos existentes e abrindo mão deste triste mundo fantasioso ao qual somos obrigados a aceitar. Isto se chama liberdade. Isto se chama anarquia."

Muitos pensadores, filósofos, políticos ou simplesmente revolucionários tiveram suas ideologias distorcidas. Uma delas, bastante afetada, foi a anarquista. Não nos deixemos levar por um simples efeito midiático e relacionar bagunça diretamente com anarquismo. Sejamos informados e livres para opinar. Não adianta apenas reclamar do mundo e não fazer nada por ele. Se não sabe o que fazer por ele, comece por você. Mude suas atitudes.

Rumo a liberdade!

Pergunto-me: O que fazer com uma sociedade totalmente robotizada? Há um meio de libertá-la de uma infinidade de coisas que a prende em um mundo totalmente manipulado? Às vezes aquela musiquinha da Pitty faz sentido, "Admirável chip novo".